O escritor Afonso Reis Cabral, trineto
de Eça de Queirós, escreveu para a VISÃO uma carta aos estudantes sobre o
"calhamaço" publicado há 130 anos e ensinado nas nossas escolas.
"Vês como respira? Como precisa de ti para sobreviver?"
O calhamaço que te obrigam a ler na escola está velho. Foi escrito há 130
anos (imagina a tua vida multiplicada por oito), é pois natural que te pareça
demasiado pesado, um cadáver de papel do qual queres livrar-te o mais
rapidamente possível. Mas atenção, tem calma. Pega-lhe com cuidado, sopesa-o na
palma da mão como o telemóvel do qual dependes.
Vês como respira? Como precisa de ti para sobreviver?
Eu sei: a obrigação pesa. Só o facto de te meterem o livro à frente, de o
analisarem contigo; pior, de o limitarem àquele tipo de estudo muito vazio que
visa o exame, só isso já te estraga a vontade. A mim também estragou. Mas
repara: o Eça não tem culpa de o submeterem à burocracia do ensino, de o terem
posto nessa camisa de forças, e de te obrigarem a ti, que tens mais que fazer,
a acatar ordens. Pensa que ele não escreveu para ti. Quer dizer, para te
estragar a vida. Muito pelo contrário.
Afonso Reis Cabral
In Visão, 06-12-2018
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Afonso Reis Cabral ganhou o Prémio Leya em 2014 com o livro O Meu Irmão. Em
2018 editou o seu segundo romance: Pão de Açúcar
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