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domingo, 5 de maio de 2019

Dia da Mãe



Desculpa Mãe,
Por não ser tão forte
Como me ensinaste.
Desculpa,
Pelos medos vivo, que não dispersei
Pela voz errante, com que não gritei
Por todos os dias em que não rezei.
Desculpa, mãe,
Pelos poemas que não te escrevi
Pelas metáforas em que me iludi
Por velhas histórias em que me perdi.
Desculpa, esta paixão errada,
Pela solidão que alimentei em mim.
Desculpa o choro,
Desculpa a mágoa,
Desculpa Mãe,
Por não ter mais coragem
De lutar por mim
E ter sido o cais de todas as partidas.
Desculpa Mãe,
Se não fui tão pura como me sonhaste
Se não fui tão doce como me ensinaste
Desculpa a raiva,
Desculpa, Mãe
O voo incerto em que me escondi
Desculpa a dor,
No teu olhar cansado
O medo, o destino que não impedi.
Desculpa as mãos, Mãe,
Desculpa as mãos
Sempre tão abertas errando o momento...
Mãe, desculpa agora
Aqui, no momento certo.
Desculpa se não sou perfeita
E te desiludi!

Truly I (8º5ª)



Gustav Klimt






Pablo Picasso



Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
          Era uma vez uma princesa
          no meio de um laranjal...


Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves. 

Eugénio de Andrade, in Os Amantes Sem Dinheiro" 

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