Para conhecer um pouco mais Carlos do Carmo, propomos a leitura do artigo do Jornalista Miguel Carvalho na revista Visão.
Apresentamos alguns execertos:
A
última conversa com Carlos do Carmo (1939-2021)
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Era uma vez o fado
Eu fiz a escola primária, o liceu Passos Manuel e morava no Bairro da Bica. O pai, felizmente, mandou-me para um dos maiores colégios do mundo, na Suíça. Imagine o que acontece quando se encontra num local onde as pessoas dizem o que pensam e os jornais escrevem o que querem. Quando voltei, estava estupefacto. Mas não tive tempo de assimilar. O meu pai morreu em 1962, eu tinha 21 anos, a minha mãe não ia poder gerir O Faia, era a estrela da casa. Demos sequência à casa de fados, estive lá 20 anos, com muito sucesso. Quando foi o 25 de Abril, não fiz nenhuma censura, mas fui chamando artista por artista, e dizendo: “Isto é muito pobrezinho, não deves cantar”
Fado perseguido I
A memória operária do fado era conhecida de muito poucas pessoas a seguir ao 25 de Abril. Eu tive sorte por causa do meu pai. Ele tinha sido livreiro e tinha livros sobre fado. Vouu agora gravar um fado, de um homem chamado João Black, fadista anarcossindicalista, que, em conjunto com o Avelino de Sousa, ia até ao Alentejo cantar o fado como quem vai organizar uma missa, isto nos anos 30.
Depois isto foi amolecendo. A censura fez uma parte e o medo fez a outra. Não se podia cantar um fado sem ser visto pela censura. Isso limitou muito as pessoas. Era quase um hino à pobreza. Mesmo nessa altura, nunca fui muito ligado a esse fado. E quando comecei a cantar fui-me socorrendo do reportório que havia na altura. Um dia tive uma surpresa magnífica. Canto um fado chamado Por morrer uma Andorinha e um dos velhos presos comunistas disse-me que era uma espécie de hino entre eles.
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